sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Como se chama a tua bicicleta? e Caldo de Iguana em Oaxaca

Como se chama a tua bicicleta?
Jan. 24, 2010

Depois de semanas sem vermos ninguém do nosso género aconteceu por acaso encontramo-nos todos nas ruas de Cruz Grande, éramos quatro um casal de Canadianos Alex e Meredith que vêem de Vancouver com destino a Panamá e Chip Albright de Ohio que vem da Argentina a caminho Norte para o Alaska. Na conversa sobre coisas que passam pelo caminho veio o tópico de: “Como se chama a tua bicicleta?” eu fui o único sem resposta, pensei sempre que uma bicicleta não é mais do que uma bicicleta, mas ultimamente sinto remorsos por não tratar a minha bicicleta com o respeito que merece, não por causa da conversa que tivemos, mas por causa do que aconteceu no dia seguinte.

O dia começou de excelente forma com café e Quesadillas cortesia da generosa dona do restaurante que na noite anterior também deixou que o Chip e eu pudéssemos acampar na sua propriedade. Depois de uma longa conversa com o Chip sobre as coisas que nos esperam no caminho em frente, despedimo-nos e seguimos em direcções opostas.
Por ser domingo o trânsito era pouco e eu pus-me a bom ritmo com alguma esperança de alcançar o casal Canadiano que tinham partido mais cedo para chegarem a Puerto Escondido antes do almoço.
A uns 15 km de Puerto Escondido havia um obstáculo na estrada tratava-se de um boi teimoso que vários campesinos estavam a ter dificuldades em movê-lo para dentro da cerca, o sistema evolvia várias cordas atadas aos cornos e um pau para chicotear a besta, mas ele nem por nada se movia. O senhor que estava a controlar o trânsito porque só havia uma via aberta, manda-me passar e eu, no entanto penso que posso ajudar a situação. Normalmente as vacas fogem quando eu me aproximo e por isso tentei sem medo chamar a atenção e assustar o boi para o lado da cerca. Quando ele me viu a aproximar sem hesitação lançasse ao ataque, tal e qual com se fosse uma tourada, de cabeça baixada corre na minha direcção, eu sem pensar muito salto da bicicleta e saio do caminho para ser cúmplice da minha bicicleta a ser marrada de frente antes de ter tempo de cair ao chão, atirada ao ar, pisada por cima, e como se isso não chegasse, as cordas que estavam atadas aos cornos enrolam-se nos pedais, e é rastejada por vários metros pela estrada a baixo até que o boi pare.
Desta vez com muito mais medo desato as cordas e levanto a bicicleta. Pareceu-me que estava tudo partido e o meu primeiro pensamento foi que podia arrumar as malas e ir para casa, a viagem chegou ao fim, mas uma melhor inspecção prova que a situação era menos grave do que parecia, estavam muitas coisas entortadas, arranhadas, e deslocadas, mas havia poucas partidas e nada que eu não pudesse arranjar. Com um bocadinho de paciência e depois de juntar as minhas malas que ficaram espalhadas na estrada, endireito o melhor que posso o guarda lamas e as engrenagens dianteiras (coroas), alinho o guiador, recomponho a corrente, tiro o cabo dos travões da frente que estavam a roçar no aro e sacudo-lhe o pó, o suficiente para continuar ate Puerto Escondido.
Quando cheguei a Puerto Escondido encontrei-me com o casal de canadianos que também tiveram problemas pelo caminho um dos raios tinha-se partido e eu emprestei-lhes as chaves necessárias para trocar o raio, enquanto eles fizeram isso eu acabei de endireitar o suporte das malas da frente, arranjar os travões e desempenar a roda um bocadinho. O único que não pude arranjar foi o espelho que tem uma peça partida. À tarde pus-me a caminho e acabei o dia quase com 100 km, como se nada tivesse acontecido.

Raios e aros partidos, mudanças que não funcionam, rolamentos a fazerem barulho, furos a todas as horas do dia... são problemas desafortunados que tenho visto e ouvido acontecer a outros ciclistas ao longo da viagem. Eu tenho posto a minha bicicleta em situações extremas por vezes na autoria da minha própria estupidez e ela por mais torta que saia de certas situações, ainda nunca me deu nada que eu não pudesse arranjar, ela pode não ter nome, mas tem toda a minha confiança que me vai levar ate ao fim e eu não a trocaria por nenhuma outra bicicleta por mais bonito ou espectacular que o nome fosse.

Podem ver aqui o á vontade que costumava ter com as vacas, agora quando as vejo sou eu quem foge.




O boi


Os campesinos, um deles ajudou-me a juntar as coisas


Simples cicatrizes de lutadora


Outras casualidades


Caldo de Iguana

Com a vinda do calor húmido das zonas tropicais, a preguiça troce-me o braço e demanda descanso, eu pouco resisto, do meio-dia às 4 da tarde paro debaixo da sombra, ás vezes na praça da cidade a ver a banda passar, outras vezes no meio do nada a ver as formigas e as nuvens passar. Hoje foi à beira de um rio, a uma boa distância de qualquer população. Aproveitei para tomar um banho, lavar a roupa e testar a coragem dos peixes que se arriscavam a morderem-me os pés.
Depois do almoço de surpresa passa um rapaz, trazia uma mochila às costas e agarrava um machado numa mão e um machete na outra.

“Andas á caça?” Pergunto eu na brincadeira.
“Fui apanhar iguanas”
“É para o jantar?” Digo eu outra vez na brincadeira.
“Não é para vender no restaurante”
Eu faço uma cara de desconfiado a mesma cara que recebo quando digo às pessoas de onde venho de bicicleta, e digo: “Mas eu nunca vi Iguana no menu dos restaurantes”
“Só há nos restaurantes das aldeias onde a policia não passa porque é ilegal comer iguanas é como as tartarugas. Queres ver?” E nisto tira da mochila cinco iguanas, com as pernas atadas às costas e a boca cerrada.
“Há; agarrá-las vivas!”
“Sim nos buracos das árvores”
“E para que é o machado?”
“Às vezes os buracos estão muito fundos e eu tenho que fazer outro buraco mais abaixo, é trabalho duro, tenho que subir às arvores, tenho que ter cuidado para não me arranhar porque elas tem os dentes e as unhas bem afiadas” diz-me ele enquanto amostra os braços todos arranhados.
“E não usas luvas?”
“Não, assim mesmo”
“Então e depois são fritas?”
“Também, mas melhor é feito num caldo de tomate”
“E sabe a galinha?” Pergunto eu enquanto ele arruma as iguanas de novo para dentro da mochila.
“Não sabe a pescado, mas eu quase nunca as como necessito mais do dinheiro.”
“E quanto vale cada uma?”
“50 pesos.” (3 euros)
“250 pesos por meio dia de trabalho, não é nada mau.”
“Tive um dia em que apanhei 14, foi preciso vir duas vezes para carregá-las, mas isso são dias raros de muita sorte.”
“E como é que vais para casa agora?”
“Vou esperar por uma camioneta.” e nisto dá-me direcções e convida-me a passar pela sua casa onde ele vive com a sua família, mas eu nunca cheguei bem a saber qual era a aldeia porque esta tarde acabei o dia depois de passar a cidade Morro Mazatlan sem passar por qualquer outra aldeia.

Pobres iguanas


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Estado de Oaxaca

Em Rio grande encontrei o segundo ciclista que vem da Argentina e cada vez que falo com alguém que vem para onde eu vou mais confiante fico de que tudo vai correr bem.
Pouco depois de me despedir do Chip, sem querer pus ao teste os limites da minha bicicleta de uma maneira um pouco invulgar (ver - Como se chama a tua bicicleta?).

Nunca tive tantas recomendações para visitar um sítio como foi para as praias à volta de Puerto Angel várias pessoas disseram que valia a pena uma visita. Desde que cheguei à costa da Califórnia venho a ver praias bonitas e tinha as minhas dúvidas se valia a pena fazer um desvio de 10km para ver mais do mesmo. De qualquer maneira a curiosidade torceu-me o braço e apesar de de ser a subir a descer e depois ter que voltar a trás, fui até Puerto Angel. Como eu tinha predicado foi mais uma praia bonita como todas as outras praias que já visitei, mas com um ambiente um pouco mais liberal e artístico. Quando já estava para voltar a trás conheci um grupo de hippies mexicanos e estrangeiros que me convidaram a acampar, a maioria já ali acampava à semanas e vivem como uma comunidade. Ao verem que eu tinha um fogão decidiram ir comprar arroz e fazer um jantar para todos com um saco de arroz. No dia seguinte despedi-me dos meus hospedes que ficaram admirados de eu me ir embora ao fim de tão pouco tempo.

Depois de fazer uma visita ao mercado de Tehuantepec passei uma zona que é famosa pelo vento forte que com frequência chega a virar caminhões de carga, eu tive sorte e apanhei um dia de vento fraco.


Dia 209 Cuajinicuilapa - Janiltepec 87km
Elev. 72m
N16˚12.606’
W097˚45.912’

“Love is in the air”


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Cascata



Dia 210 Janiltepec – Rio Grande 55km
Elev. 61m
N16˚00.311’
W097˚25.818’

Rio


Mar ao longe


Dia 211 Rio Grande - Tonameteca 92km
Elev. 47m
N15˚44.008’
W096˚45.373’

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Puerto Escondido


O “afia tesouras” deu-me uma idéia, talvez eu possa financiar a viagem se eu modificasse a bicicleta para afiar tesouras e facas pelo caminho


O pica-pau


Dia 212 Tonameteca – Puerto Angel 67km
Elev. 25m
N15˚39.825’
W096˚33.345’

Puerto Angel


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Dia 213 Puerto Angel – Sta. Cruz Huatulco 73km
Elev. 26m
N15˚45.582’
W096˚07.766’

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Deve de ser um grande rosário


Dia 214 Sta. Cruz Huatulco – Rio Seco 61km
Elev. 51m
N15˚56.648’
W095˚45.188’

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Dia 215 Rio Seco – Morro de Mazatlan 69km
Elev. 261m
N16˚06.209’
W095˚19.090’

Salina Cruz


Um crucifico diferente, parece-me doloroso e humilhante


Os taxis em Tehuantepec parecem triciclo em esteróides


Moinhos de vento



Dia 216 Morro de Mazatlan – La Venta 108km
Elev. 82m
N16˚34.193’
W094˚46.742’

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Ao ultimo dia mesmo antes de começar a subir as montanhas apanhei uma amostra do vento

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Distrito Federal (Desvio de Carreira)

Cinco horas de carreira mais tarde cheguei à Cidade de México, depois de apanhar o metro para o centro fui à procura de um hotel e logo dei conta que não existem quartos baratos como no resto do país, mas soube bem mudar de ambiente e fugir ao calor, a cidade de México tem o charme de uma cidade culta com muita historia e coisas interessantes para visitar.
O metro é a melhor maneira de visitar a cidade é económico (3 pesos), eficaz, limpo, e por vezes cheio de gente e de vendedores ambulantes para entretimento.
O centro histórico está repleto de Igrejas e edifícios antigos. Muitos dos edifícios públicos têm as paredes dos pátios decorados com pinturas dos mais importantes moralistas de México como Diego Rivera, e David Siqueiros, murais que contam a história de México e situações injustas.
A cidade foi construída em cima das ruínas de uma cidade pré-colombiana e as ruínas do Templo Maior o mais importante dessa antiga cidade podem ser vistas ao lado da catedral que foi construída com muitas das pedras roubadas das ruínas.
Nos domingos os museus são grátis e eu aproveitei o dia todo para visitar os mais importantes, o museu de Antropologia tem uma colecção incrível de objectos coleccionados nas escavações das muitas ruínas que existem em todo o país.
Aproveitei também para visitar as ruínas de Teotihuacán que ficam a uns 40km fora da cidade, esta foi a minha primeira vez a visitar uma das zonas arqueológicas em México e fiquei entusiasmado para ver outras.
No ultimo dia e á terceira tentativa consegui entrar no pátio da secretaria de educação publica graças a umas professoras mexicanas que também já tinham tentado visitar noutras ocasiões e que desta vez demandaram falar com o diretor em troca tivemos uma explicação de todos os morais dentro e fora do edifício que durou mais de 3 horas.
Ao fim de cinco dias voltei a Acapulco onde a minha bicicleta me esperava pacientemente.


Dias 201-205 Cuidade de México
Elev. 2207m
N19˚26.054’
W99˚08.131’

A vista da minha varanda


Perdido na Plaza de la Constitucion


A catedral


As ruas da cidade


A catedral da cidade de México, a área onde foi construída não é estável e ao centro existe um prumo que indica o movimento do edifício nos últimos 50 anos


Ruínas de Teotihuacan (lugar onde se fazem os deuses)



Ruínas de Teotihuacán


Pirâmide do Sol


Em frente á “Calle de los Muertos”


Pirâmide do Sol vista ao topo da pirâmide da lua


Pirâmide da Lua vista ao topo da pirâmide do Sol


Murales da Cidade de Mexico

Pintura mural de David Siqueiros


Pintura moral de Diego Rivera


Uma rara visita ás paredes do pátio da secretaria de educação publica



Muitos dos murais de Diego Rivera contam injustiças sociais como este: os ricos a cobrarem taxas em moedas de prata e os pobres a negociarem com moedas de bronze


É provável que este foi o sitio onde Diego conheceu pela primeira vez a sua namorada Frida, e por isso é que ele mais tarde modificou este moral com o retrato dela ao centro


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Este moral nas escadas do Palácio nacional representa toda a historia do México


Museu de Antropologia

As ruínas do templo Maior no meio da cidade


Caveiras num dos altares


O Mickey Mouse já existia no tempo dos Maias


Esta estatua em tamanho natural faz-me lembrar os terracota em Xian, China


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“Piedra Del Sol” que se trata de um altar de sacrifícios e não de um calendário Azteca como se pensava ser

Estado de Guerrero

As subidas e descidas terminaram pouco antes de entrar no estado de Guerrero e o terreno foi plano ate chegar a Acapulco que fica numa baia escondida por trás de montanhas. Cheguei tarde a Acapulco e não fui capaz de encontrar um sitio para acampar por isso pedi a um parque de estacionamento se podia alugar um espaço durante a noite para acampar, no dia seguinte com mais calma fui á procura de um quarto econômico. Acapulco é outra cidade com uma fama turística a nível mundial, mas sem nada interessante para se vêr.
Depois de dois dias deixei a bicicleta aqui e apanhei a carreira para a cidade de México, que eu queria visitar, mas ficava fora da minha rota.

Dia 194 Chiquiapan – El Chico 89km
Elev. 62m
N17˚59.807’
W101˚57.984’

Esta arvore tinha uma colônia de umas vinte iguanas, todas maiores que esta, no tempo que me levou a acender a câmera elas conseguiram todas fugir. A maioria saltou para o chão e esconderam-se entre as ervas altas


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Dia 195 El Chico – Coacoyul 92km
Elev. 8m
N17˚36.968’
W101˚27.201’

Digo adeus ás montanhas e olá ás praias bonitas


Outro rio que deságua ao mar


Dia 196 Coacoyul – Arroyo Seco 48km
Elev. 23m
N17˚24.565’
W101˚10.696’

“Combi” o transporte publico mais econômico


Talvez a minha irmã ou um dos colegas perceba o que se passa aqui!! Cá para mim é um flagrante roubo de eletricidade


Dia 197 Arroyo Seco – San Jeronimo 105km
Elev. 11m
N17˚08.899’
W100˚26.961’

Este futuro ciclista estava cheio de perguntas, fiquei admirado com sua esperteza


Háaa; planície


Dia 198 San Jeronimo - Acapulco 101km
Elev. 4m
N16˚50.857’
W099˚54.561’

Á borda do rio


A entrar Acapulco


Dias 199-200 Acapulco 20km
Elev. 43m
N16˚50.847’
W099˚54.670’

Andorinhas


A baia de Acapulco


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Dia 206 Acapulco – Barra Vieja 50km
Elev. 36m
N16˚41.259’
W099˚37.392’

A cidade de Acapulco


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População mil??