sábado, 6 de fevereiro de 2010

Baja Califórnia Sul

Desde que apanhei a costa do Pacifico o vento têm sido uma maravilha e agora que estou numa área plana podia facilmente aumentar a minha média de quilómetros por dia, mas achei que era melhor aumentar a média de horas de descanso por isso tenho andado a explorar os cantos todos das pequenas vilas por onde passo especialmente nas horas de calor.

Mais uma falhada tentativa de aproveitar o vento


San Ignacio é um verdadeiro Oasis no deserto com uma enorme lagoa rodeada de tamareiras. Uma espécie de palmeira que não dá cocos, mas dá tâmaras um fruto que seca na arvore e cai ao chão pronto para se comer. Com um sabor a figos secos não tardei a apanhar dois sacos cheios que mesmo a partilhar com os amigos que fui conhecendo ao longo do caminho ainda restaram por várias semanas.

Em Guerreiro Negro conheci um casal de turistas Mexicanos artilhados com uma pequena motorizada, tenda de campismo e pouco mais, o dinheiro tinha-se acabado e a moto que os trouxe desde Tijuana estava à venda. A missão deles era, com o pouco que tinham, conhecer o resto da península de Baja Califórnia. Ao longo dos próximos dias fui testemunha de várias fases dessa aventura. Sem terem conseguido vender a moto, passaram outra vez por mim, mas desta vez com um valente molho de cana-de-açúcar que apanharam pelo caminho e que me ofereceram, mas eu tive que dizer não com medo que o dono viesse atrás de mim. Dois dias mais tarde pára um carro à minha frente, desta vez iam de boleia e o motorista não se importou de parar para que falássemos por uns minutos a moto tinha sido bem vendida e eles pareciam contentes em continuar. Mais tarde no mesmo dia encontrei-os pela última vez em Santa Rosália, novamente a tentarem arranjar boleia.
Eles ficaram admirados com a minha aventura, mas eu acho que fiquei mais admirado com a deles. Há pouca gente que se dá ao luxo de viajar ao ponto de terem que vender o equipamento para poderem continuar, isso é que é espírito de viajante.

Associação de turistas de bolsos rotos, a moto está a trás de nós


Desta vez sem moto, mas com condutor privado


Outro casal de viajantes que passou por mim varias vezes foi Lore e Dieter eles são alemães reformados e estão a fazer o percurso de Alaska a Argentina numa carrinha Volkswagen. Na cidade Constitucion eu tive o imenso prazer de os poder ajudar com uma situação injusta que se passa demasiadas vezes nas estradas do México. De manhã quando ia a passar pela cidade vejo a carrinha a ser parada pela policia, aproximo-me e venho a saber que estavam a ser multados por não pararem na passadeira de peões e por falta de cuidado, as duas multas tinham um total de 700 pesos. A polícia Mexicana considera os estrangeiros como alvos fáceis por não saberem falar espanhol e porque a maioria prefere pagar as multas do que terem chatices. No entanto o resto dos carros passavam pela passadeira sem nenhum deles parar. Eu chamei à atenção ao policia desse facto e de que o casal estava à pouco tempo no México as regras são lhes um pouco desconhecidas. A este ponto o polícia confessou que o chefe dele é que lhe deu as ordens e que não os podia deixar ir sem lhes dar pelo menos uma multa. Eu pedi então se era possível falar com o chefe. Depois de uns dez minutos chega uma carrinha com o chefe ao volante, um passageiro polícia e mais seis polícias assentados atrás na carroçaria. O chefe era um rapaz novo e pançudo, enquanto ele acendia um cigarro eu dei-lhe as mesmas desculpas que já tinha dado ao primeiro polícia. Ele sem qualquer resposta fez um abanar de mãos como quem diz “vai-te embora”. Eu disse-lhe obrigado e fui dar a boa noticia ao casal que ficou muito grato.

Outro casal com quem tive o prazer de compartilhar as tâmaras foi David e Martine que vieram do Canadá para percorrerem México e Guatemala de bicicleta. Viajámos juntos por um dia desde Santa Rosalia a Mulegé. Eles são navegadores de veleiros e apesar de terem tido um dia miserável com problemas de furos nos pneus dizem que isso não é nada a comparar com um mau dia num barco de vela.

David e Martine a arremedar mais um furo. Eles dois tiveram uns 8 furos todo o dia


Nesta altura do ano parece que quase todos os ciclistas que vem do Alaska em direcção á Argentina, se reúnem nesta área. Ao longo das últimas semanas tenho ouvido falar de outros colegas que estão um pouco mais à frente ou um pouco mais atrás de mim e até viajei com um deles. O David da Inglaterra fez-me companhia e também leva rumo à Argentina ele tem um itinerário um pouco mais apressado do que o meu e pouco depois seguiu em frente.

Ao decidir descer Baja Califórnia eu sabia que ia ficar cerrado numa península sem saída a Sul, mas para isso existem barcos e amanhã atravesso o mar Cortez de barco com destino a Mazatlan.


Dia 157 Villa Jesus Maria – El Vizcaino 96km
Elev. 65m
N27˚46.209’
W113˚34.243’
Moooo!


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Dia 158 El Vizcaino – San Ignacio 110km
Elev. 107m
N27˚17.271’
W112˚53.953’

Cuidado com as vacas mortas


Abutres á volta de outra vaca morta


Planícies, com um excelente vento por trás



Não preciso de-me preocupar com os cocos a caírem—me em cima estas palmeiras são de tâmaras


Dia 159 San Ignacio – Santa Rosalia 82km
Elev. 47m
N27˚19.504’
W112˚14.913’
Um lago no meio do deserto! Ao longe o vulcão das três virgens


Igreja de missionários em San Ignasio


As primeiras vistas do Mar Cortez


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Dia 160 Santa Rosalia - Mulege 74km
Elev. -41m
N26˚53.868’
W111˚57.922’

Igreja em Mulege desenhada por Gustave Eiffel o mesmo que desenhou a torre Eiffel


Á pouco tempo passou por aqui um furacão e ainda se podem ver evidencias como este carro estacionado em cima das arvores


Aqui comi os melhores tacos de pescado ate agora


Dia 161 Mulege – Playa Veniza 34km
Elev. 47m
N26˚42.661’
W111˚54.192’

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Dia 162 Playa Veniza - Loreto 99km
Elev. 98m
N26˚04.944’
W111˚23.484’

A costa entre Mulege e Loreto é lindíssima uma mistura de deserto e mar manso que complementa a serenidade da área é pena não ser um parque nacional para protegê-la da praga urbana que lentamente se vai construindo, vivendas ricas, que roubam as vistas aos que não são privilegiados com bolsos fundos


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Moooo!!


Dia 163 Loreto – Puerto Econdido 48km
Elev. 44m
N25˚50.447’
W111˚20.079’

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Dia 164 Puerto Econdido – Cuidade Insurgentes 106km
Elev. 18m
N25˚12.998’
W111˚45.726’

Igreja em Loreto


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Dia 165 Cuidade Insurgentes – Las Pocitas 114km
Elev. 70m
N24˚26.870’
W111˚09.742’

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Em Baja Califórnia os postos militares de fiscalização são constantes


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Dia 166 Las Pocitas – La Paz 98km
Elev. 108m
N24˚05.297’
W110˚31.363’

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Cidade de La Paz debaixo do nevoeiro


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Dia 167 La Paz – Pichilingue 56km
Elev. 6m
N24˚16.412’
W110˚19.455’

O bilhete mais barato que encontrei foi num barco de carga na companhia de camionistas e um grupo de Mariachis que aproveitaram a viagem para ensaiarem. Á noite para fugir da sinfonia de ressonos que vinha da sala comum aproveitei para acampar no convés do barco, a primeira vez que acampo em movimento


Poucas horas mais tarde estava cheio de camiões


As ultimas vistas de Baja Califórnia

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